Há muito tempo já se sabe da importância da alimentação na promoção da saúde e prevenção de doenças. A primeira doença que teve sua causa associada à alimentação foi o escorbuto, em 1747. Durante as Grandes Navegações, muitos marinheiros que passavam meses nas embarcações comendo apenas peixes e arroz, morriam da doença. Mas quando tiveram a alimentação complementada com limões e limas frescas, a doença foi sanada, sendo então atribuída à deficiência de um fator nutricional, posteriormente identificado e chamado de vitamina C.
A Ciência da Nutrição surge em meados do século XX, descobrindo outras doenças causadas pela deficiência de nutrientes específicos, e se debruçando, a partir do século XXI sobre as doenças crônicas (como diabetes e doenças cardiovasculares), devido à transição demográfica e nutricional da população, causadas pelo aumento da expectativa de vida e da obesidade, respectivamente.
Mas a Ciência da Nutrição foi muito além, e hoje já se sabe que nossa saúde é determinada não apenas pelo que comemos, mas também pelo que nossa mãe, e até nossa avó comeram. O estudo mais conhecido e que serviu como base para a teoria da origem fetal das doenças do adulto, foi o que acompanhou os indivíduos que nasceram durante a Fome Holandesa, após a Segunda Guerra Mundial, período de restrição calórica muito severa. Esses indivíduos apresentaram uma prevalência maior de obesidade, hipertensão, doenças do coração, diabetes, câncer de mama, esquizofrenia e depressão, na vida adulta. Outros estudos foram feitos, sugerindo que a deficiência nutricional durante a gestação e infância leva a alterações na estrutura ou função de determinados órgãos em formação, para permitir sua sobrevivência no ambiente hostil. Mas essas adaptações se tornam permanentes e em outros contextos passam a ser prejudiciais, favorecendo as doenças. E por que se tornam permanentes? Porque a plasticidade é uma característica do início da vida, quando o organismo ainda está em formação. Já ouviu falar da importância dos Primeiros 1.000 Dias da criança? É isso. É o período em que a criança está mais suscetível aos insultos ambientais, cujas consequências podem ser levadas para o resto da vida. Atualmente já se fala dos Primeiros 1.100 Dias, pois já se evidenciou a importância do período da preconcepção: o peso, a prática de exercícios físicos e a alimentação da mãe (e até do pai) podem afetar a qualidade das células germinativas, que dão origem aos gametas.
e outros insultos ambientais (como estresse, uso de álcool e tabaco, e o excesso de peso)
Uma vez que essas adaptações são transmitidas através das gerações, constatou-se que além da herança genética, tem-se a chamada herança epigenética, ou seja, que não se dá através do DNA. Digamos que enquanto o DNA serve de molde para fazer todas as proteínas que determinam as diferentes estruturas e funções do nosso organismo, a epigenética é capaz de controlar quais genes do DNA serão ativados ou silenciados, por meio da sua ligação com diferentes compostos químicos, os quais facilitam ou dificultam a sua expressão. Quando um embrião é formado, tanto o DNA de origem materna, quanto paterno são desligados desses compostos para permitir sua total expressão e formação dos diferentes órgãos e tecidos. Mas excepcionalmente alguns genes mantém a herança epigenética, passando à geração seguinte.
Não apenas a subnutrição resulta nessas alterações epigenéticas, como também a hipernutrição, a hiperglicemia materna e a deficiência de nutrientes específicos, como algumas vitaminas do complexo B. E não pense que as deficiências nutricionais só ocorrem na subnutrição. A pessoa obesa geralmente ingere mais alimentos farináceos e refinados, de alto valor calórico e baixo valor nutricional, apresentando uma série de deficiências.
Portanto, hábitos alimentares e um estilo de vida saudáveis nos períodos da preconcepção e gestação aumentam a sobrevida do bebê, favorecem seu pleno desenvolvimento físico, cognitivo e comportamental e reduzem o risco de doenças crônicas precoces e na vida adulta.
Durante a gravidez, a necessidade calórica vai tendo um pequeno incremento, mas as necessidades de determinados nutrientes podem aumentar bastante. É recomendável o consumo de alimentos ricos em vitaminas, minerais e gorduras insaturadas, como frutas, legumes, verduras, feijões, leite e queijos magros, azeite, oleaginosas e sementes.
Após o nascimento, o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses tem efeito extremamente protetor a curto e longo prazo. A amamentação pode ser mantida até os 2 ou 3 anos, devendo ser feita a introdução de novos alimentos aos 6 meses para suprir as necessidades do bebê, sempre dando preferência para alimentos in natura ou minimamente processados e evitando os ultraprocessados contendo muito aditivos sintéticos, e oferecendo açúcar somente após os 2 anos.
Nutrição por um futuro melhor.